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segunda-feira, 19 de março de 2012

Ser ou fingir ser? Eis a questão

Ninguém está contente com o que é. Há quem lide com isso admitindo as suas fraquezas e depois há quem se disfarce. Não gosto disso. Aprendi a gostar de mim como sou, irrequieta, tagarela, morena, romântica, ruim, e com este nariz de judia que Deus me deu. Foi difícil. É díficil! Há sempre uns olhos mais bonitos que os meus, alguém mais responsável do que eu, e é assim com toda a gente. Competências todos temos, a maneira como as potenciamos é que varia. É por isso que eu gosto de pessoas com a mania. Essas são as que já não precisam de disfarce.

Ele: Nesta fotografia pareces a Penélope Cruz.
Ela: Não pareço nada. Eu não sou parecida com ninguém.
Ele: Pois não… e ninguém é parecido contigo. Ainda bem.

sábado, 10 de março de 2012

Verão - J.M.Coetzee



O biógrafo de um escritor já falecido procura aqueles que se cruzaram com ele em vida para poder escrever a sua obra. Ao longo das entrevistas que faz a estas pessoas vai conhecendo, não a história do escritor, John Coetzee, mas sim a história de quem viveu com ele. Em vez do leitor perceber de que maneira estas personagens influenciaram Coetzee, fica a saber precisamente o contrário. Assim, nesta demanda por  Ao elaborar a biografia de um escritor de sucesso, o biógrafo apercebe-se de como, afinal, Coetzee não passava de um homem vulgar, excêntrico, solitário e de pouco interesse.

Diz Júlia, uma das personagens:

" Estamos em presença de um homem que, na mais íntima das relações humanas não consegue estabelecer contacto fugazmente, intermitentemente. E contudo, como ganha ele a vida? Ganha a vida fazendo relatórios especializados sobre as experiências humanas intímas. Porque é disso que os romances tratam, não é? "

Há fragmentos do próprio Coetzee no livro. O escritor, homem demasiado vulgar e demasiado triste que vive sozinho com o pai doente.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Evangelho Segundo Jesus Cristo - José Saramago

José Saramago é simplesmente um ótimo escritor. Parece quase cliché dizê-lo. Supõe-se que um Nobel da Literatura escreva bem. Ao ler o "O Memorial do Convento" aos 16 anos apaixonei-me pela escrita de Saramago. Diferente, é certo, mas também por isso tão fascinante. À segunda página já a escrita se havia tornado de fácil compreensão, longe de qualquer metafísica.



"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" é mais do que a boa escrita do autor. É um trabalho corajoso. É a habilidade de criar um Deus de verdade, tão verdadeiro ao ponto de envergonhar o próprio leitor que cedo se questiona sobre a existência de um Deus tal como descrito por Saramago. E porque não há-de fazer sentido essa personificação? O Deus de Saramago é, na verdade, um diabinho manipulador da pior espécie, o Diabo é demasiado humano e Jesus Cristo é divino sem o saber e sem nunca o aceitar.

O livro gira à volta de uma questão, não só de Saramago, mas do mundo: Quanto vale afinal a crença cristã? A obra não dá respostas, nem sequer apresenta teorias, é apenas uma perspectiva genial inventada pelo autor.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Who needs sad songs, anyway?

As músicas emocionalmente intensas fazem bem ao cérebro, é o que diz a ciência. A verdade é que as lamechices soam melhor quando estás triste. Porque é nesses momentos que te dizem alguma coisa. O John Lennon canta Imagine all the people, living life in peace e há mil momentos da tua vida que encaixam, é aquele sentimento de partilha, de não estou sozinho que sabe tão bem. É lindo ouvires alguém cantar o que estás a sentir. É lindo perceber que algures no mundo alguém conseguiu compor o sentimento. O teu. Nesses momentos, a pirosice faz tanto sentido.

O cérebro liberta dopamina quando ouves músicas com mensagens emocionais. As hormonas do prazer fazem-te chorar mas confortam. Na hora da dor, mais vale uma canção triste do que canção nenhuma. Desligar o rádio e ouvir o silêncio é desistir.  No one wants you when you lose. Don't give up, 'Cause you have friends. Don't give up, You're not beaten yet. Don't give up. I know you can make it good.

Depois é ouvir Jeff Buckley a cantar esta cover de Nina Simone, fechar os olhos e sentir...o que vier.


If you knew how I missed you
You would not stay away
Don’t you know how I need you?
Stay here… my dear…with me.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Brave New World - Aldous Huxley

Considerada uma das grandes obras do século XX, Brave New World (em português, Admirável Mundo Novo) não é esplêndido.  A obra retrata um mundo futuro, ano 632 A.F - After Ford, que será 2540 D.C. Ao mesmo tempo que perspetiva o futuro Aldous critica disfarçadamente o presente industrializado, consumista e standardizado que ele próprio vivia em 1930.

Comunidade, Identidade, Estabilidade é o slogan do Estado Mundial descrito no livro. Aqui toda a gente consome soma diariamente (uma espécie de antidepressivo), os bebés criam-se em laboratório, o conceito família não existe e violência é coisa que ninguém conhece. Bernard Marx, a personagem principal, não é feliz porque se sente desadaptado no mundo onde vive. No fundo, porque pensa pela própria cabeça.


Aldous perspetivou uma série de gadjets que efetivamente existem nos dias de hoje, como as portas automáticas ou os gravadores de voz, mas esperemos que a esterelização das mulheres e o fim do individualismo não se concretizem como o autor previu. É que neste Estado Mundial tudo obedece a uma lógica, toda a gente é feliz e tem aquilo que quer. No entanto, há qualquer coisa que falta no coração dos que lá vivem e a consciência desse facto é assustadora. Será a perfeição da sociedade a morte do ser humano?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Drive - Risco Duplo






Em bom dito cinematográfico, Drive encontra-se na categoria do film noir: dramático, violento e escuro, mas não deixa de ser também um filme de ação. Foi Ryan Gosling quem escolheu o realizador do filme, Nicolas Winding Refn, depois de ter lido o guião. Um filme que de inicio era para ter sido interpretado por Hugh Jackman e exigia um financiamento de milhões. Tudo mudou com Refn e a visão de Gosling.

A personagem principal, interpretada por Ryan Gosling, é conhecido apenas como O Condutor. Condutor durante o dia, quando executa o seu trabalho de duplo de cinema, e condutor à noite quando passeia pela cidade o seu Chevrolet Chevelle de 1973. 

A história é simples e pouco original. O condutor apaixona-se pela vizinha do lado que tem o marido na prisão. No dia em que sai em liberdade, o marido envolve-se novamente em problemas e o condutor tenta facilitar-lhe a vida, por amor… à mulher dele.

O condutor fala pouco, não por uma questão de contenção mas por feitio. Mesmo sem palavras e com cenas que se estendem por vezes em planos fixos de vários minutos, é impossível desviar os olhos da personagem. O condutor é também um vingador, um sonhador, um apaixonado, e é isto tudo, num silêncio sepulcral.

Se Ryan Gosling merecia a nomeação para Óscar? Não sei. Eu não conseguiria manter um ar tão sereno dentro daquela personagem. As personagens raivosas são mais fáceis de interpretar. Representar no silêncio é difícil. Nem na vida real muitas vezes o conseguimos fazer.

Drive é um thriller de ação, sem correrias, e ainda assim intenso até dizer chega. Eu gostei mas compreendo que seja uma seca para quem adora a saga Velocidade Furiosa.

IN: A interpretação de Ryan Gosling, a SOBERBA banda sonora e a fotografia.OUT: O filme conseguiria ter a mesma intensidade com mais diálogo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Lana Del Rey e a pop mal disfarçada




Lana del rey chama-se Elizabeth Grant. Tentou entrar no mundo da música pelo caminho mais difícil – o mainstream da pop - e não conseguiu. A voz não se evidenciava, a imagem era pobre em exuberância. E assim começa a história.

A voz continua a não ser estrondosa, não tem os graves de Shirley Manson nem faz belting como a Mariah Carey. E então? You can be the boss podia ser pronunciado pelos lábios carnudos de Fiona Apple ou Tori Amos, verdadeiros esses, e perfeitos na hora de colocar a voz. Video Games faz-me lembrar o Happy Birthday Mr. President cantado por Marylin Monroe, mas em bom. A sexyness é a mesma, a interpretação, graças a deus, melhor. Quando se canta bem não é preciso saber cantar.

A imagem, mudada, é agora genuinamente negligé, uma flor no universo Indie, o mesmo universo que lhe aponta o dedo e a trata por embuste clássico. Se há alguém que realmente tenha que se importar com isso é a própria artista, que está no direito de não se sentir bem no papel que representa. O público não tem que odiá-la por ser um “produto”. A música sempre foi e sempre será um bem de consumo, porquê tanta indignação em pegar num artista e melhorá-lo, adequá-lo às necessidades de mercado? Lana del Rey é marketing, sim senhor, mas pelo menos é marketing do bom e dá gosto gostar dela assim.

Lábios de colagénio encantadores, menina aparentemente despreocupada mergulhada na pop mais mal disfarçada de sempre. Não quero saber se ela sente o que canta. Eu sinto. O álbum de estreia,  Born to Die, sai a 30 de Janeiro. Vou ouvi-lo sem parar.